terça-feira, 31 de julho de 2012

MAPA DE ONTEM

Ontem à tarde, no Novo Palácio de Verão.

Típica «metralhadora falante», diz a Dona I. - patroa e Mestre da equipa que montava os CORT. - , a dado passo:

«Fiquei sem os vitrais dos pulmões.»

Well.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

PRAIA (Mulheres na) - Armando Silva Carvalho

[chega o Verão; todos os anos a mesma história: arrumar o ESC.
vá lá vai; mês e meio depois, continua «tudo ao monte»]

- no topo de um,  o recente livro de A. S. C.
 - (ver o artigo de J. M. S. no «Actual» e no seu blogue «Biblio de papel»)

- G. ainda não chegou aos poemas da segunda parte («42 canções entre duas portas») - há tempo e Espera(s)
- mais um dos poemas da primeira («os que fazem o amor»), relida devagar

MULHERES NA PRAIA

Que planturosas são as mulheres na praia,
visões impressionistas, ao vivo, e em cores tão delicadas,
tão sábias no lento movimento
dos seus dedos,
no maternal prazer estendido sobre a toalha 
de sombras.

Todo o sumo dos lábios profundamente oculto
dos olhares 
traz a quem julga ver imagens
frágeis, descartáveis
a solidez duma prática de vida entrançada
em sonhos que resistem. 

São elas que persistem,
com essa cal secreta e a minúcia do amor,
em inventar crianças verosímeis,
anjos tecidos na espuma,
e assim vencem o sol, o masculino ardor
no declonar da tarde,
embevecidas.

Armando Silva Carvalho, De Amore. 2012, Lisboa, Assírio & Alvim, p. 15

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Madre de Deus

10:30

- O pretexto da ida à Madre de Deus foi o de ver as «revisitações» de «Cerâmicos AA» a padrões do séc. XVII - estavam espalhadas em redor de um dos claustros - entre elas, as de alguns Qd.s do ano passado - F. T., por exemplo

- as Imagens, desta vez, «não estavam apagadas», apesar de  - «feitas as contas» - ter sido há cerca de 40 anos que o então Menino D. estivera naquela preciosa Nave Dourada
- João Afonso, de «Histórico-Filosóficas - bom Mestre, apesar das dificuldades em «lidar» com o «Manto Hormonal» do Quadrado - , aí levara o bloco de Ciências - só rapazes, nessa época... pois

-e mora perto, G.....

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Parrado + Eli


[poema do Luís Filipe e foto da Eli -tremenda ligação]

O TEMPO QUE FAZ

Os velhos sentam-se neste banco
a avaliar o tempo que faz encostados a uma empena
escuro, mais antiga do que eles. Também eu,
escondido na sombra, deixei para trás
a luz das dunas. A visão pinta com cores cegas
o lugar onde a alegria se desfez, uma história
de águas perdidas no coração da terra.
O fim de um amor é como um sonho.
Ainda hoje o fumo dos cigarros me sabe
melhor pelo sopro da manhã
depois de um sono sereno. As limalhas radiantes
no túnel mostram como se cai no limbo negro do horizonte,
no rio espesso após o crepúsculo.
Sim, soube tarde de mais o que podia dizer
da minha vida, com a boca fechada por correntes
e trapos estava simplesmente morto.
Como os velhos que continuam sentados neste banco
acordo a tempo de comprar algum pão
e varrer do passado o teu rosto, uma promessa estilhaçada,
um grão de juventude que me guia com uma pequena luz
que só no vento destas palavras se mantém.

Luís Filipe Parrado,  Entre a Carne e o Osso, Língua Morta, 2012, pp. 57-58

segunda-feira, 2 de julho de 2012

DE AMORE - Armando Silva Carvalho

G. precisava de uma «pequenina compensação»

- derivou, ao encontro, como sempre, de um livro.
Encontrou.
Quando, de tempos a tempos, sai um deste nível, faz-se sempre justiça ao (anti)tópico: «afinal, ainda não estava tudo escrito sobre o A.»

Um, ao acaso escolhido (a inserir na «Inesiana»)

AINDA A RAINHA DEPOIS DE MORTA

Arranca corações, esse punho cruel
que vem fustigando a história
dos amantes e chega até aos púlpitos, tronos,
e matérias de arte.

Na pedra burilada, os anjos muito agudos
pecam por desvelo.
Nas naves ressoa o bramar enrolado em raiva
da realeza sepulta:
eu amei-a viva, vocês venerem-na morta.

Foi um punho cruel.
Talvez houvesse um sexo absoluto em tanto movimento
de ouro, brocado,
soluços ébrios de temor ou de outra natureza
mais embevecida.

A história nete caso é sedutora:
traz o poder ao sol duns seios, à luz duma vagina,
abre a flor dos sentidos, desfeita
a golpes de espada,
de traição.

Aqui neste frio erguido ao redor das naves
a matéria humana
que percorre viva a tarde histórica
tem pressa de fugir
ao pesadelo:
o amor não mata, ninguém o assassina,
é ele e só ele que se expõe
já morto.

Armando Silva Carvalho, De Amore. 2012, Lisboa, assírio & Alvim, pp. 37-38